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A triste realidade do ensino no Brasil.

A triste realidade do ensino no Brasil.

2015-09-21

De cada 100 crianças que deveriam estar alfabetizadas, 22,00 % não sabem ler!

 

O Ministério da Educação (MEC) divulgou nesta quinta-feira (17/09), os dados da ANA - Avaliação Nacional de Alfabetização, que mede o aprendizado de leitura, escrita e matemática; o resultado não poderia ser mais decepcionante: mais da metade dos alunos brasileiros no Ensino Fundamental com até oito anos de idades não conseguem solucionar questões com números maiores que 20 ou sequer ler as horas em um relógio de ponteiros.

Eis mais alguns dados:

Língua Portuguesa: ao chegar ao final do terceiro ano do Ensino Fundamental, 22,20 % das crianças de 8 anos não conseguem ler uma frase inteira; quando deveriam estar completamente alfabetizadas, elas conseguem compreender apenas algumas palavras isoladas, impedindo a completa compreensão do texto.

Outro dado: apenas 56,17 % dos alunos são capazes de encontrar alguma informação num texto se ela estiver na primeira linha, demonstrando baixo fôlego de leitura. Ao escrever um texto, 34,4 % dos alunos produz frases ilegíveis, com a troca ou omissão de letras nas palavras.

Em Matemática a situação não é melhor: 57,00 % dos estudantes não conseguem solucionar perguntas com números maiores que 20, nem ler as horas de um relógio de ponteiros. Ainda mais: 17,70 % dos alunos não consegue fazer divisões exatas com o apoio de imagens e apenas 25,50 % deles conseguem ler as horas em relógios analógicos, alguns gráficos de barras e efetuar subtrações com centenas e divisões em partes iguais sem o auxílio de imagens.

Novamente, observamos as graves discrepâncias regionais: em Português, no nível 1 (no qual as crianças da terceiro Ano do Ensino Fundamental sabem ler apenas sílabas ou palavras isoladas, mas não são capazes  de compreender o sentido de uma frase) estão 35,06 % dos alunos do Nordeste  e 35,06 % do Norte, enquanto “apenas” 16, 06 % dos alunos do Centro-Oeste, 13,05 % do Sudoeste e 11,94 % da região Sul do país estão neste nível.

Em Matemática, o percentual de crianças que só conseguem ler as horas em relógios digitais e não conseguem fazer contas com números maiores que 20 são 38,50 % no Nordeste e 37,39 % no Norte, enquanto que representam “ apenas” 19,09 % no Centro-Oeste, 14,11 % no Sudeste e 14,07 % no Sul.

Esses dados foram apresentados pelo INEP e são o resultado da avaliação de cerca de 2,3 milhões de alunos do terceiro Ano do Ensino Fundamental de 49 mil Escolas Públicas de todo o país, período em que termina o ciclo de alfabetização nas escolas. Estes dados confirmam o baixo nível de aprendizagem das nossas crianças, especialmente em leitura e matemática.

Esses dados demonstram que estamos muito longe de atingir a Meta do Plano Nacional de Educação, de alfabetizar todas as crianças em idade escolar até 2.024. Precisamos com urgência definir os currículos detalhados do Ensino Fundamental: a proposta do MEC está no momento disponível para avaliação e deve demorar de 5 a 10 anos para sua implantação; investir na formação de alfabetizadores e professores (mais de 50 % deles não tem formação superior); melhorar a gestão das escolas e da educação, tornando-as mais profissionais; e implementar processos de avaliação verdadeiros, tanto para os alunos quanto para os professores.

O enfrentamento dessa situação pela sociedade é urgente e de imensa importância social: a verdadeira inclusão econômica e justiça social só serão possíveis através da educação, assim como o aumento da produtividade da nossa economia, fator essencial para superarmos a atual crise que vivemos.  São milhões de crianças que crescerão com baixa escolaridade e se tornarão adolescentes e adultos com grandes dificuldades em adquirir maior qualificação profissional, recebendo baixos salários e atingindo um padrão de vida insuficiente.

 

Carlos J. G. de Mendonça é Educador e Psicanalista, fundador do site Ensinoazul.

20/09/15

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